quarta-feira, 22 de junho de 2016

Jogando RPG com Elfos – Como encarar a longevidade

Jogando RPG com Elfos – Como encarar a longevidade
Shinken levantou um post sobre a longevidade élfica, que deixarei aqui para participarem e comentarem. Quando fui responder, notei que iria escrever demais e daria um belo post explicando como encaro e como utilizo a longevidade dos elfos dentro dos mundos de fantasia do RPG.
-Shinken, falando sobre elfos no grupo D&D Next
Post Original no Grupo D&D Next
Pessoal, eu tenho pensado bastante nos efeitos de imensa longevidade e não consigo entender muito bem como a longevidade dos elfos funciona. Ou melhor, não acho que os efeitos dessa longevidade são aplicadas de forma lógica em D&D (e na ficção em geral, pensando bem).
Na teoria, os elfos são mais habilidosos e sábios que os humanos, o que os torna distantes e os leva a não encarar a humanidade com tanta seriedade. Afinal, a vida de um humano passa em um piscar de olhos para um elfo e eles são teoricamente mais avançados em praticamente tudo. Isso faz todo sentido – a percepção de tempo para nós, humanos, também acelera quando envelhecemos e é claro que quanto mais vivemos, mais podemos aprender e aprimorar.
Na prática, os elfos não deveriam ser tão melhores em tudo. Se os cérebros deles funcionam de forma similar aos humanos, como eles fazem para lidar com todas as memórias acumuladas? Humanos reorganizam parte das memórias quando dormem – será que a reverie dos elfos é um método mais eficiente de fazer isso? (Isso parece muito óbvio, provavelmente é oficializado em algum suplemento, se alguém souber em qual, avise ^^) Aliás, os elfos demonstradamente não são melhores que o resto (pelo menos em D&D), apesar da popularidade dessa trope na fantasia. Um elfo de D&D se torna adulto aos 100 anos, no nível 1. Humanos atingem a maturidade antes dos vinte. Esse elfo e esse humano têm basicamente o mesmo grau de habilidade e conhecimento. Se o humano variante for usado e todas as demais variantes forem iguais, o humano tem inclusive mais conhecimento em seus 20 anos que os elfos em 100.
A questão dos níveis e idade é uma problemática explicada pelo sistema de classes e a necessidade de equilíbrio. Sempre existe alguma ponta mecânica para lembrar desse aspecto dos elfos – os altos elfos têm um idioma adicional na 5e, os eladrin têm uma perícia extra, na 3.5 (e em Pathfinder) existem talentos raciais para esse lado. É uma coisa difícil de lidar, mas o jogo oferece alternativas e reconhece a problemática.
Acho que o problema mesmo surge quando a gente lida com todas as diferenças psicológicas que os elfos deviam ter dos humanos, mas acabam sendo só humanos com orelhas pontudas. As descrições genéricas sempre mencionam elfos etéreos, feéricos – mas o que a gente vê até nos romances de D&D são Lauranas e Gilthanas, seres perfeitos de centenas de anos agindo como adolescentes, mais humanos que o resto de seus amigos. Os anões, que por teoria são mais parecidos com os humanos, acabam sendo representados de forma mais alienígena que os elfos com sua sociedade rígida e com as formas diferentes com que cada cenário (ou edição) trata seu dimorfismo sexual (ou falta dele). Até autores que são perfeitamente capazes de apresentar personagens de mentalidade alienígena, como Leonel Caldela, dão mole quando se trata de elfos em fantasia medieval. Bizarramente, parece que é um padrão da fantasia medieval descrever os elfos como distantes e alienígenas em geral mas tratar todos os elfos que de fato aparecem na história como humanos de orelhas pontudas.
Sinceramente, acho que para RPG a versão mais simplificada dos elfos como humanos de orelhas pontudas cuja longevidade não influencia muito suas habilidades funciona muito melhor que criaturas que a gente mal ia conseguir compreender. O que eu não entendo é o motivo desse fluff de ‘elfos são quase imortais e melhores de todo mundo’ continuar aparecendo apesar de desmoronar quando examinado com um mínimo de escrutínio. Não era melhor a gente adotar logo que elfos são humanos de orelhas pontudas que gostam de arcos, espada, magia e árvores? A gente não tá se enganando por pensar que é de outra forma?
Uma abordagem um pouco diferente que funciona bem é como acontece em Dragon Age. Os elfos de Dragon Age um dia já foram esse modelo feérico, distante, sobre-humano. Só que esse tempo passou e os elfos ou vivem entre os humanos, sendo pouco mais que humanos com orelhas pontudas mesmo ou vivem nas florestas na sombra de seus ancestrais, tentando ser aquilo que já foram… mas sem conseguir.
Li em um livro e fico qui devendo qual, pois realmente não lembro qual, MAS eu ACHO que foi em um livro de Pathfinder. Enfim. Li nesse tal livro algo que me fez pensar muito sobre como encarar a longevidade elfica ( para jogadores ).
A ideia é imaginar a memoria dos elfos como a visão de alguém, que fica entre ver algo em sua mão e outra coisa no horizonte distante. Quando está focado no presente, é como se enxergasse aquilo que está a sua mão, os fatos distantes ficam nublados e difíceis de focar, logo toda uma vida de experiencias não funciona direito para um elfo de forma prática. Agora, quando ele precisa se lembrar de algo de seu passado, ele fica distraído com o mundo presente e entra em meditação ou fica extremamente pensativo, mal podendo agir ( que explica a parte de dormir diferente dos elfos ). Isso não resolve todos os problemas, mas já ajuda na hora de interpretar um elfo e o porque ele não tem vantagem tendo tanto conhecimento acumulado.
Pensando assim, irei dar algumas sugestões de como usar isso em seus jogos.
  • A primeira coisa que posso dizer, é como trabalho o elfos em Golarion, cenário de Pathfinder RPG. Eu encaro lá da seguinte maneira. Os elfos são bem fodas, todo o reino deles (
    elven_archer_reloaded_by_vynthallas
    Elven Archer – Ate de Vynthallas
    que agora é bem pequeno, só tem elfo de nível 7th para cima exatamente devido a longevidade e porque estão em constante conflitos com demônios e fechando sus fronteiras. Sendo assim, não são acessíveis a personagens jogadores. Elfos de personagem jogadores, são conhecidos no cenário como Forlons. Eles são criado por humanos e passam a vida vendo entes queridos morrendo com o tempo. Utilizando exatamente a mecânica q mencionei, isso torna eles afastados e deprimidos e raramente se entusiasmam com alguma coisa. Dentro da historia, sempre peço para que os elfos definam o que motiva eles naquele momento. Isso faz com que você jogue com um personagem mais complexo e que ainda tem a oportunidade de buscar suas origens e descobrir o quão foda sua raça é. Se usar assim, lembre-se de sempre apresentar elfos como criaturas raras e poderosas, a não ser q ele também seja um Forlon.
  • Elfos são raros. Nesse tipo de regras, permita apenas o mais experiente jogador interpretar um elfo e de coordenadas de como ele deve agir. É interessante se não mudar a dinâmica do grupo, até mesmo dar itens e porque não níveis a mais para que ele realmente pareça ser foda. Equilibre isso com preconceitos e outras situações que podem afetar interações sociais.
  • Reencarnações. Essa dica é assim, o elfo ERA poderoso, mas agora ele ficou um tempo parado e resolveu voltar a ativa. Ele pode ter sido um grande general que agora se relembra de suas habilidades, pode ser um antigo mago que desistiu da magia e agora resolveu ser um ladino. brinque com mecânicas e principalmente com interpretação com NPCs para isso ficar ainda mais divertido.
De uma forma ou de outra, Shinken realmente levanta pontos interessante e adoraria ler a opinião de vocês e sugestões para resolver esses problemas.

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